Tradicionalmente, na agricultura, a requisição nutricional das culturas é suprida por meio da aplicação de fertilizantes minerais, em especial aqueles contendo os macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), os quais, em virtude do amplo uso, são agentes potenciais de degradação e contaminação ambiental. Nesse sentido, fertilizantes orgânicos surgem como uma alternativa sustentável que aumenta a fertilidade e saúde do solo, de modo que aspectos químicos e físicos como o conteúdo de matéria orgânica, atividade enzimática, disponibilidade de nutrientes, estabilidade dos agregados, retenção de água e menores índices de erosão são influenciados pelo maior aporte de matéria orgânica propiciado por esses produtos.
O microbioma do solo, ou seja, o conjunto de microrganismos que habitam esse ambiente, também é sensível ao manejo agrícola praticado, e consequentemente, ao tipo de fertilizante utilizado. Solos que recebem insumos orgânicos apresentam maior biomassa microbiana, assim como maior diversidade quando comparados a solos tratados com fertilizantes minerais. Além disso, alterações na composição taxonômica da microbiota do solo também ocorrem de acordo com a natureza do produto aplicado.
Os efeitos do uso de compostos orgânicos na comunidade microbiana podem ocorrer com uma única aplicação, em especial por meio do aumento de grupos de microrganismos que decompõem matéria orgânica. Fertilizantes minerais, por sua vez, não necessariamente alteram a longo prazo a comunidade microbiana em aplicações únicas, entretanto, aplicações constantes, tanto de fertilizantes minerais, como de orgânicos, alteram o estado ecológico, de modo a afetar o microbioma, assim como outras propriedades do solo.
A questão de exemplo, solos tratados com fertilizantes de natureza orgânica apresentam recorrência de grupos bacterianos envolvidos na degradação de compostos orgânicos complexos e que são abundantes em ambientes com alta disponibilidade de carbono, a exemplo de substratos oriundos de processos de compostagem, como é o caso de grupos como Pseudomonadota, Bacteroidota e Bacillota, os quais são formados por bactérias fermentativas. Por sua vez, a aplicação de fertilizantes minerais demonstra em maiores proporções grupos como Actinomycetota e Chloroflexi.
Em relação a aspectos químicos, fertilizantes orgânicos, no geral, contribuem para o aumento de atributos como o pH e disponibilidade de fósforo. Esses efeitos, entretanto, assim como os biológicos, são acumulativos, dependentes da dose aplicada e de fatores ambientais.
Portanto, em manejos agrícolas que buscam alternativas mais sustentáveis, o uso de fertilizantes de origem orgânica surge como alternativa que impulsiona positivamente uma série de características físicas, químicas e biológicas do solo. Assim, o microbioma desse ambiente é um dos atributos que também está sujeito a essas mudanças, seja em função da introdução de microrganismos já contidos nesses implementos ou pela alteração do estado ecológico do solo, de modo que é fundamental compreender como essa comunidade é afetada a curto e longo prazo nos sistemas de manejo, com o objetivo de garantir melhor aproveitamento desses produtos e promover um solo mais saudável e produtivo.
AUTOR: Gabriel de Castro Theodoro
REFERÊNCIAS
FRANCIOLI, Davide; SCHULZ, Elke; LENTENDU, Guillaume; et al. Mineral vs. Organic Amendments: Microbial Community Structure, Activity and Abundance of Agriculturally Relevant Microbes Are Driven by Long-Term Fertilization Strategies. Frontiers in Microbiology, v. 7, 2016.
KRAUT-COHEN, Judith; ZOLTI, Avihai; ROTBART, Nativ; et al. Short- and long-term effects of continuous compost amendment on soil microbiome community. Computational and Structural Biotechnology Journal, v. 21, p. 3280–3292, 2023.