Os solos compactados são grandes e comuns problemas em lavouras de sistemas agrícolas intensivos no Brasil, sendo um sinal da degradação física do solo, caracterizada pela alteração no rearranjo dos agregados e partículas do solo, o que acarreta em problemas de porosidade, aeração, densidade, resistência à penetração de raízes, infiltração e armazenamento de água e nutrientes, de modo a impactar diretamente no desenvolvimento das culturas. Sendo assim, variadas são as abordagens para restaurar a estrutura do solo e, dentre elas, destacam-se a amplamente utilizada descompactação mecânica, com o uso de máquinas e implementos, e a descompactação biológica, uma alternativa mais sustentável por meio do uso de plantas de cobertura.
A descompactação mecânica, conforme já mencionado, envolve o uso de implementos agrícolas acoplados a máquinas, como os subsoladores, escarificadores e grades, que agem rompendo as camadas compactadas na superfície e subsuperfície. Apesar de apresentar resultados mais rápidos e visíveis, esse método pode ter limitações a longo prazo, especialmente pela ação temporária, visto que naturalmente o solo consegue se reconsolidar por ciclos de umedecimento e secagem, além dos custos envolvidos. Além disso, vale ressaltar que o uso excessivo de maquinário também pode intensificar os processos de degradação do solo, formando novas camadas compactadas devido ao tráfego de máquinas e à falta de cobertura vegetal, especialmente em solos mais argilosos.
Outra alternativa possível para a descompactação do solo, e que se faz cada vez mais presente no cotidiano dos produtores rurais, é a biológica, por meio do uso de plantas com sistema radicular agressivo. O modelo mais consolidado é o plantio de plantas de cobertura, por meio do mix de diversas plantas ou, principalmente, pelo uso da braquiária Urochloa ruziziensis. A utilização desses dois tipos de cobertura apresenta praticamente o mesmo objetivo: descompactar e dar mais estrutura ao solo. No caso da braquiária, seu uso se deve ao grande porte de suas raízes, de forma a favorecer o acúmulo de matéria orgânica e de nutrientes relacionados, assim como a aeração do solo, por meio da formação de macroporos, os quais ajudam na infiltração da água no solo. A rizosfera formada por essas raízes favorece o melhor desenvolvimento do microbioma, que poderá prevalecer nas culturas posteriores. Além disso, sua parte aérea serve de cobertura para o solo, diminuindo a perda de água por transpiração, protegendo o solo do calor e diminuindo a incidência de ervas daninhas.
Os dois métodos de descompactação mencionados possuem diferenças, as quais podem ser levadas em consideração pelo produtor antes de serem aplicados. A descompactação mecânica pode ser mais rápida para o produtor, diferente da biológica, que demanda tempo para a braquiária se desenvolver a fim de obter o resultado necessário. Além disso, esse método de descompactação pode ser aplicado em qualquer região, diferente da biológica que precisa de um clima favorável para o desenvolvimento das plantas de interesse. Entretanto, a descompactação biológica ajuda na microbiota do solo, na incorporação de nutrientes e na cobertura do solo, diferente da mecânica, onde o solo permanece o mesmo quimicamente, isso se não houver o uso de fertilizantes químicos.
Em relação aos custos, a descompactação mecânica pode ter um custo mais elevado, já que deve ser feita a passagem de implementos diversas vezes até a obtenção de um resultado de boa descompactação e com poucos torrões. Para a biológica, por sua vez, serão utilizados os implementos para plantio, seja a lanço ou via sulco, e para a remoção da cobertura formada, por meio de rolo faca ou por dessecação química. Contudo, os custos da descompactação mecânica ainda podem ser menores caso não seja feito um controle correto da biológica, já que a espécie utilizada poderá se tornar uma possível daninha, necessitando de um cuidado especial posteriormente.
Portanto, o método a ser usado pelo produtor pode variar de acordo com os objetivos e com os custos de implementação. Ecologicamente falando, a descompactação biológica pode ser a mais viável, entretanto, por custos ou por condições climáticas, sua implementação pode não ser tão viável. Por isso, é de costume aliar os dois métodos, tendo assim um resultado favorável em vários quesitos, mas ressaltando que isso varia das condições do produtor. Visando a melhor adaptação e melhor aceitação por parte dos produtores, novos métodos de descompactação dos solos via biológica vem sendo desenvolvidos, como por exemplo o método Yamakawa, o qual utiliza bactérias e leveduras para proporcionar a aeração do solo, fazendo proveito assim da microbiologia.
Autores:
Gabriel Rocha Casarin
Ryan Gustavo Souza da Cunha
Referências:
DE ALMEIDA MANTELLI, Fernando; CRISPIM VILAR, Cesar; GABRIELA, Layla; et al. DESCOMPACTAÇÃO MECÂNICA E BIOLÓGICA DE UM LATOSSOLO VERMELHO COMPACTADO: INFLUÊNCIA NAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO SOLO MECHANICAL AND BIOLOGICAL DECOMPRESSION OF A COMPACT RED OXISOL: INFLUENCE ON THE PHYSICAL CHARACTERISTICS OF THE SOIL. Global Science and Technology, v. 16, n. 1, p. 14–21, 2024.