O uso de braquiárias como plantas de cobertura tem se consolidado como uma das estratégias mais eficazes para promover a sustentabilidade em sistemas agrícolas tropicais. No contexto do Sistema de Plantio Direto (SPD), essas espécies exercem papel crucial na manutenção da cobertura do solo, no sequestro de carbono, na supressão de plantas daninhas e na melhoria da estrutura física e biológica do solo. Dentro do grupo PACES (Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade), destacamos resultados concretos de experimentos conduzidos com Urochloa ruziziensis e Urochloa brizantha cv. Piatã em consórcios agrícolas, revelando o valor técnico dessas espécies para a agricultura moderna.
Um dos sistemas avaliados foi o consórcio entre o milho (Zea mays) e a Urochloa brizantha cv. Piatã, no contexto do Sistema Santa Fé. A pesquisa de Ceccon et al. (2012) demonstrou que a produtividade de milho não foi comprometida pela introdução da braquiária, sendo o destaque a produção de fitomassa da forrageira, que variou conforme a modalidade de plantio.
O cultivo exclusivo da braquiária (Piatã solteira) gerou mais de 5 toneladas de matéria seca por hectare. Entretanto, os sistemas em entrelinhas ou em linha e entrelinhas também proporcionaram boa cobertura vegetal, sem interferir na cultura principal. Esses dados endossam a braquiária como alternativa viável para integração lavoura-pecuária, especialmente pela possibilidade de uso posterior como pastagem ou silagem.
Outro estudo de destaque foi conduzido por Bessa (2020), no município de Montividiu-GO, avaliando o desempenho do sorgo (Sorghum bicolor) em consórcio com Urochloa ruziziensis. O experimento testou diferentes densidades de semeadura da forrageira (0 a 100 sementes viáveis/m²) e dois métodos de plantio (à lanço e entrelinha), totalizando 10 tratamentos distintos. As análises indicaram que o plantio à lanço resultou em maior produtividade de grãos do sorgo (1.746 kg/ha) e acúmulo total de biomassa.
Por outro lado, a semeadura na entrelinha favoreceu a produção de biomassa da U. ruziziensis (3.030 kg/ha), oferecendo maior potencial como cobertura morta. Esse tipo de arranjo é vantajoso para áreas que demandam alta cobertura do solo e controle de plantas invasoras, mesmo que, em densidades elevadas, haja competição que afete o crescimento do sorgo. A escolha entre maior produção de grãos ou cobertura vegetal pode ser feita conforme o objetivo do produtor.
Além de culturas anuais, as braquiárias também mostraram bom desempenho em consórcios com culturas perenes, como o cafeeiro e o abacateiro. Em cultivos intercalados, como evidenciado por Ragassi et al. (2013), a presença de braquiária entre as fileiras de café contribuiu para regular a temperatura do solo, formar bioporos para o enraizamento da cultura e ciclar nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, além de fornecer cobertura morta com efeito supressor de daninhas.
Experimentos semelhantes em pomares de citros, como o de Bremer Neto (2007), reforçaram que a U. ruziziensis, isolada ou combinada com leguminosas como amendoim-forrageiro e estilosantes, reduziu significativamente a biomassa de plantas daninhas. Isso foi comprovado por meio de um gráfico que comparou os tratamentos e mostrou a superioridade dos que incluíam braquiária.
Esses experimentos práticos comprovam que as braquiárias oferecem alternativas seguras e multifuncionais na agricultura sustentável. Além de servir como barreira física contra erosão e plantas daninhas, elas contribuem para o acúmulo de matéria orgânica, melhoria da estrutura do solo e até aumento da produtividade agrícola, quando bem manejadas. As evidências aqui apresentadas mostram que a integração entre ciência, prática e manejo inteligente é o caminho para a resiliência dos sistemas agrícolas.
REFERÊNCIAS
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