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MATÉRIA ORGÂNICA E CARBONO NO SOLO

 

PACES – Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade

Autor: Gabriel João Moreira de Lucas

 

A matéria orgânica é um dos pilares para a produtividade nos solos tropicais, auxiliando no incremento de atributos físicos, químicos e biológicos das lavouras. Para melhor avaliar a participação da matéria orgânica, o carbono no solo é também uma ferramenta fundamental. Nesse contexto, o grupo PACES (Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade) traz, com base em experimentos e estudos científicos, a presente revisão a respeito de como o carbono e a matéria orgânica se comportam nos solos, além da forma como o manejo sustentável influi sobre eles dentro do contexto agrícola.

A princípio, conceitua-se brevemente a matéria orgânica do solo (MOS) e explica-se sua dinâmica. A matéria orgânica consiste no carbono orgânico, isto é, de origem biológica, em diferentes estágios de decomposição, incluindo toda a fauna e flora do solo, substâncias humificadas e materiais carbonizados (Roscoe; Machado, 2002). Cunha et al. (2015) descrevem a dinâmica da MOS por meio de dois processos principais: a mineralização, em que o material orgânico fresco principalmente é transformado em minerais simples, e a humificação, pela qual o carbono orgânico restante assume forma mais estável, o húmus.

Existem muitas maneiras de classificar a MOS, sendo que, em experimento realizado por Rossi et al. (2012), ela foi dividida entre matéria orgânica particulada (MOP) — uma fração mais lábil, de decomposição e ciclagem mais rápida — e matéria orgânica ligada a minerais (MOM) — fração não lábil, dependente da transferência de MOP. No referido estudo, avaliou-se o teor de MOP e MOM em lavoura de soja sob os seguintes tratamentos:

  1. cultivo de braquiária na estação seca e soja durante as águas;
  2. cultivo de soja na primeira safra e sorgo na segunda safra;
  3. área de referência, com vegetação do Cerrado.

Rossi et al. (2012) concluíram que o tratamento com braquiária apresentou o maior teor de MOP ao longo do perfil do solo (Figura 1), de maneira que, sendo essa a forma de MOS mais suscetível ao manejo, a braquiária, mais que o sorgo, contribuísse para a incorporar mais matéria orgânica à lavoura.

Figura 1 – Estoque de matéria orgânica sob o tratamento com braquiária (SB), com sorgo (SS) e a área de referência (A. REF). As profundidades são 0-5 cm (A), 5-10 cm (B) e 10-20 cm (C)

Fonte: Rossi et al. (2012).

Outro aspecto importante da MOS, que envolve seu teor de carbono mais explicitamente, é a relação C/N. Novais et al. (2007) lecionam que ela varia a depender da planta, sendo que altas relações C/N tornam a decomposição do material mais lenta, e o contrário se dá a relações baixas, sob as quais a vegetação rapidamente se mineraliza. Assim, a palhada de gramíneas, de relação C/N elevada, podendo chegar a 90/1 no caso da cana-de-açúcar, pode ser aproveitada pela sua persistência em cobrir o solo, enquanto a de leguminosas, geralmente mais baixa, 18/1 no caso da soja, presta-se para o fornecimento rápido de nitrogênio. Dessa forma, Giacomini et al. (2003), estudando o efeito de diversas coberturas vegetais do solo, concluíram que o consórcio de leguminosas e gramíneas é o mais eficaz para o manejo sustentável do solo.

Quanto aos benefícios físicos para o solo, é bastante importante a forma como a MOS contribui para estabilizar os agregados, o que garante melhor infiltração de água, menor densidade superficial, proteção contra erosão e facilidade de enraizamento. Isso, por sua vez, revela uma das vantagens do sistema de plantio direto (SPD) sobre o plantio convencional, em que o primeiro favorece o acúmulo de matéria orgânica e o segundo, a sua degradação (Novais et al., 2007). A respeito desse tema, Fabian (2009), em ensaio avaliando o efeito de plantas de cobertura no solo, concluiu que a estabilidade dos seus agregados aumentou sob uso de crotalária, milheto e braquiária a 0-10 cm em comparação com a ausência de cobertura (Tabela 1).

Tabela 1 – Estabilidade de agregados do solo em água em diferentes camadas depois do cultivo de soja ou milho, em 2004 e 2006

Coberturas de solo 2004 2006 2004 2006 2004 2006
————————————— % ————————————
Camada 0-2,5 cm Camada 2,5-5 cm Camada 5-10 cm
Crotalária 24 26 a 16 14 a 10 10 a
Milheto 25 25 a 15 13 a 10 7 ab
Braquiária 23 25 a 15 14 a 8 10 a
Ausência de cobertura 13 11 b 12 8 b 8 4 b

Fonte: adaptado de Fabian (2009).

 

REFERÊNCIAS

CUNHA, T. J. F. et al., V. Matéria Orgânica do Solo. In: NUNES, R. R.; REZENDE, M. O. O. (org.). Recurso solo: propriedades e usos. São Carlos: Cubo, 2015. Cap. 9, p.273-293.

FABIAN, Adelar José. Plantas de cobertura: efeito nos atributos do solo e na produtividade de milho e soja em rotação. 2009.

GIACOMINI, S. J. et al. Matéria seca, relação C/N e acúmulo de nitrogênio, fósforo e potássio em misturas de plantas de cobertura de solo. Rev. Bras. Cienc. Solo, Campinas, v. 27, p. 325-334, 2003.

NOVAIS, R. F. et al. (ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2007. 1017 p.

ROSCOE, R. et al. Sistemas de manejo e matéria orgânica do solo. In: ROSCOE, R.; MERCANTE, F.M. & SALTON, J.C. (org.). Dinâmica da matéria orgânica do solo em sistemas conservacionistas: Modelagem matemática e métodos auxiliares. Dourados, Embrapa Agropecuária Oeste, 2006. p.17-41

ROSCOE, R.; MACHADO, P.L.O.A. Fracionamento físico do solo em estudos da matéria orgânica. Dourados, Embrapa Agropecuária Oeste; Rio de Janeiro, Embrapa Solos, 2002. 86p.

ROSSI, C. Q. et al. Frações lábeis da matéria orgânica em sistema de cultivo com palha de braquiária e sorgo. Revista Ciência Agronômica, v. 43, n. 1, p. 38-46, jan-mar, 2012.

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