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Fenômenos El Niño e La Niña e suas consequências na agricultura

Nos agrossistemas, há dois componentes para o meio físico: o solo e a atmosfera. Assim, as condições meteorológicas exercem enorme influência sobre a agricultura, sendo bastante importantes a chuva e a temperatura. Nesse contexto, muito se discute acerca dos fenômenos El Niño e La Niña, os quais se relacionam a uma série de fatores climáticos e os quais afetam diversas regiões do mundo, incluindo o Brasil (Las Schaab, 2018). Dessa forma, o grupo PACES (Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade) explica esses eventos e destaca, com base em experimentos, os seus efeitos na agricultura brasileira.

Quanto ao El Niño — o qual decorre do aquecimento das águas do Oceano Pacífico próximas à costa da América do Sul —, seus efeitos sobre o Brasil relacionam-se principalmente sobre as chuvas e a temperatura nas regiões afetadas, o que se resume na figura 1A. Embora as consequências nem sempre sejam as mesmas, o INPE (2023) destaca que, no Nordeste, ocorrem secas expressivas na época das águas, entre fevereiro e maio, enquanto que, no Sul, chove em abundância e eleva-se a temperatura média. Já nas demais regiões, o El Niño provoca temperaturas mais altas e aumenta a probabilidade de ocorrerem incêndios durante a estiagem.

Figura 1 – Representação dos efeitos do El Niño (A) e do La Niña (B) no Brasil

Fonte: adaptado de Honorato (2023).

Quanto ao La Niña — o qual resulta do esfriamento das águas do Oceano Pacífico próximas à costa sul-americana —, por sua vez, os efeitos mais notáveis no Brasil (Figura 1B) são que, no Nordeste, a precipitação pluvial tende a aumentar e a temperatura cai e que, no Sul, chove menos. As outras regiões brasileiras não apresentam correlação tão clara das condições do tempo com o La Niña (INPE, 2023).

À luz desses efeitos, Araújo (2012) estudou as consequências que esses fenômenos climáticos acarretam à agricultura nas regiões Sul e Nordeste do Brasil. Como se observa na tabela 1, a produção de milho, arroz, trigo e soja tendem a diminuir nos estados sulistas tanto para El Niño, em decorrência do excesso de chuva, quanto para Niña, em razão da estiagem. O mesmo estudo mostra que, no Nordeste, por sua vez, a produção de cana-de-açúcar e mandioca, além de, tal qual disposto na tabela 2, milho e feijão, reduziu para El Niño, dado o agravamento da seca, porém aumentou em alguns estados para La Niña, por causa do aumento das chuvas.

Tabela 1 – Efeito do El Niño e do La Niña sobre a produção agrícola no Sul do Brasil

Fonte: adaptado de Araújo (2012).

 

            Para mitigar os efeitos deletérios que esses fenômenos climáticos possam exercer sobre a lavoura, algumas práticas agronômicas podem ser recomendadas, como: evitar práticas de revolvimento profundo do solo e manter a palhada em caso de chuvas mais intensas, escalonar o plantio a fim de evitar perder toda a produção se ocorrer alguma condição adversa e respeitar o zoneamento agrícola de risco climático (ZARC) (Comunello et al., 2023). Além disso, em ensaio de coinucolação de bactérias promotoras de crescimento na soja, Spanevello et al. (2023) demonstraram que Bacillus subtilis e Bacillus aryabhattai foram benéficos no desempenho da leguminosa sob La Niña quando inoculados com Bradyrhizobium japonicum.

 

Tabela 2 – Efeito de El Niño e La Niña sobre a produção agrícola no região Nordeste

Fonte: adaptado de Araújo (2012).

 

Assim, os trabalhos trazidos na presente revisão servem para elucidar a respeito de como ocorrem El Niño e La Niña e seus efeitos sobre a agricultura brasileira, os quais são mais pronunciados nas regiões Sul e Nordeste. Diante dessas condições, algumas medidas foram estudadas para reduzir os prejuízos decorrentes desses eventos climáticos, incluindo o uso de bioinsumos. Esse conhecimento é fundamental para a sustentabilidade da agricultura dado o impacto que o clima detém sobre as lavouras.

 

AUTORAS: Giullia Ferreira Rodrigues de Paula e Mariana Faria Miyazaki

 

REFERÊNCIAS

 ARAÚJO, Paulo Henrique Cirino. Eventos climáticos extremos: os efeitos dos fenômenos El Niño e La Niña sobre a produtividade agrícola das regiões Nordeste e Sul do Brasil. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2012.

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CLIMATEMPO. Quando termina o El Niño e começa o La Niña | Climatempo. Disponível em: <https://www.climatempo.com.br/noticia/2024/03/01/quando-termina-o-el-nino-e-comeca-o-la-nina-4317>. Acesso em: 12 mar. 2024.

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