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O próximo passo do agronegócio

O próximo passo do agronegócio

Antônio Teixeira, agrônomo e presidente do IBA, traz um relato interessante sobre recente experiência numa fazenda, localizada no vale do rio São Francisco e sua visão sobre o próximo passo do agronegócio. Acompanhe. 


Como Agrônomo, tenho visitado fazendas há mais de quarenta anos pelo Brasil. Em todos os estados, das regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste. Essa semana estou, pela primeira vez, trabalhando em propriedades aqui no vale do rio São Francisco, em lavouras de manga e uva. Uma região linda, que produz frutas para o mundo, em plena Caatinga nordestina.

Conheci fazendas enormes, bem estruturadas, que empregam mais de mil pessoas, na produção de frutas de alta qualidade. Essas frutas enfeitam e perfumam a mesa de famílias brasileiras, europeias, asiáticas, americanas. Proporcionam experiências incríveis, com suas cores vivas, com os sabores e os aromas de suas polpas. Ingeridas in natura, lambuzam as bocas das crianças e dos adultos.

Receitas, novas e antigas, de doces, bolos e bebidas coloridas reúnem família, vizinhos e amigos, nas cozinhas e varandas pelo mundo a fora. A arte de produzir, processar, preparar alimentos, sempre acaba em uma mesa, onde as pessoas se reúnem em torno dos alimentos. A alimentação, no caso dos seres humanos, é muito mais do que nutrir o corpo físico. Ela pode, e deve, ser um momento de prazer, de comunhão, de agradecimento à vida! Se você puxar aí pela sua memória, vai concordar comigo que, talvez a maioria de suas recordações mais queridas, foram momentos que aconteceram em torno de uma mesa, na presença de comidas e bebidas diversas. E….quase sempre, você não estava sozinho, certo? A verdade é que, desde sempre, os atos de produzir, preparar e comer/beber alimentos, são atos sagrados para o ser humano.

São ações que nos aproximam de nossa Mãe Natureza, que nos aproximam de Deus. Dito isso, ouso aqui afirmar que produzir alimentos não pode ser só mais uma atividade econômica. Por quê? Porque é preciso que, desde o solo até a mesa, energias saudáveis estejam presentes nesse processo. Bioquimicamente, porque a parte desse alimento que assimilarmos, será parte constituinte do nosso próprio corpo. Espiritualmente, porque os alimentos são o elo de conexão entre nós e a Natureza. E, como dizia a Dra. Ana Primavesi, solos saudáveis, geram frutos saudáveis, que geram pessoas saudáveis. De uns tempos para cá, coisa de cinquenta ou sessenta anos, difundiu-se nos meios agrícolas a ideia de que, para ser rentável, a agricultura precisa aplicar “modernas tecnologias”. Até aí, tudo certo. O problema é a definição que se deu para “alta tecnologia”! O que significa para você? Comprar mais insumos? Desconhecer, desconsiderar ou descartar os processos naturais que acontecem no sistema solo-planta? Artificializar, e obviamente encarecer, a produção agrícola?

Entendo que ciência e tecnologia (que não são sinônimos) são ferramentas utilíssimas para a produção de alimentos, mas devem ser usadas a partir de uma compreensão prévia da dinâmica natural de funcionamento dos agroecossistemas. Significa dizer que, para interferir ou modificar processos naturais, no sentido de potencializá-los, é necessário um conhecimento sistêmico a respeito das forças e energias envolvidas. Infelizmente, o que tenho visto, em geral, não é bem isso. Vejo ferramentas tecnológicas, como softwares, drones, implementos agrícolas, agrotóxicos, hormônios, fertilizantes, sendo usados de forma desconectada e reducionista, em relação ao conjunto das forças naturais. Por quê? Principalmente devido à três fatores principais. O primeiro é a visão imediatista de empresas produtoras de insumos, cuja governança tem uma película externa de sustentabilidade, escondendo um conteúdo bem diferente (felizmente não são todas!).

O segundo fator é a ignorância, o desconhecimento mesmo, do mercado consumidor, a respeito dos processos de produção de alimentos. Frutas, verduras e legumes, para serem valorizados, precisam apresentar certas características físicas, como tamanho, formato, cor, que nada têm a ver com a qualidade, do ponto de vista da saúde e do paladar. As frutas precisam estar disponíveis para compra, mesmo fora da sua estação natural. O que o consumidor não sabe é que, para atender à todas essas demandas, é preciso brigar muito com a Natureza. Isso encarece o produto final.

Torna necessário o uso de substâncias agressivas à vida. O terceiro fator também é uma espécie de ignorância. Nesse caso, dos governantes, políticos, formadores de opinião. Não todos, mas daqueles que enveredam para os caminhos obscuros da corrupção, que é filha do egoísmo. Quem age dessa forma, desconhece, ignora, a lei universal da causa-e-efeito, que diz: – O homem tem o livre-arbítrio para plantar o que quiser, mas a colheita será obrigatória! Ou, se preferir, “colherás aquilo que plantares”. Do ponto de vista do negócio em si, vejo uma busca por resultados financeiros, desconectada de um sentido maior, de um propósito lastreado em valores humanos elevados. Sim, o lucro é fundamental e muito bem-vindo, para remunerar os esforços, para a continuidade e expansão do negócio. Mas quando o lucro está desconectado das melhores energias, dos melhores valores humanos, então ele não faz sentido algum, pois não se transforma em felicidade, não se transforma em qualidade de vida para todos.

A felicidade egoísta, que não pensa no outro, é fugaz, não dura muito tempo. Essa semana, conheci uma fazenda, muito próspera por sinal, onde o dono, os consultores, os funcionários, estão envolvidos no desenvolvimento de alternativas menos agressivas de produção. Menor uso de substâncias agressivas à vida, maior proteção aos recursos naturais, alimentos mais limpos e saudáveis. Dez por cento do lucro é destinado à manutenção de uma escola, que abriga 325 crianças da zona rural. Outros dez por cento, é distribuído aos funcionários, seguindo critérios meritocráticos. Uvas e mangas carregadas de energias positivas, chegando até as famílias. Distribuição de saúde e sorrisos, pelo mundo a fora. Energia que retorna, na forma de mais lucros, mais satisfação, mais razão para viver. Esse é o ciclo natural, que chamo de espiral positiva, presente em toda a natureza, em todo o universo. Precisamos observar e sentir os processos naturais, aprender com eles. E lá que moram todas as respostas!

Finalmente, para refletirmos juntos e, quem sabe, lançarmos algumas sementes em terra fértil, quero dar uma sugestão. Se você é um produtor de alimentos, um agrônomo ou técnico, ou ainda, se participa da tomada de decisões em uma produção agrícola, talvez seja muito importante para todo mundo, para o nosso futuro, se pudéssemos pensar seriamente a respeito: – Será que o momento que estamos vivendo é o ideal para quebrarmos alguns paradigmas, sermos disruptivos, darmos alguns passos, com ousadia e responsabilidade, rumo à um futuro melhor para todos? A totalidade do meu ser diz que SIM!

Um abraço,

Antônio Teixeira
antonio@agrolibertas.com.br


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