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O futuro da Amazônia. Quais são os limites para evitar o colapso do bioma?

Um recente artigo publicado na revista Nature com o título “Critical transitions in the Amazon forest system”, tem como objetivo determinar os limites para os impactos que o bioma Amazônia tem sofrido, realizando modelagens para o futuro com base nas condições de estresse da floresta e seus possíveis cenários futuros.

O bioma Amazônia garante serviços ecossistêmicos importantes para a América do Sul e também o mundo todo. Esse contempla aproximadamente 10% de toda a biodiversidade do planeta, organizados em ecossistemas extremamente complexos. Segundo os autores do artigo, a Amazônia garante o abastecimento da umidade local e de grande parte da América do Sul, inclusive de regiões de maior Produto Interno Bruto (PIB) do continente, isso devido a extensa área florestal contínua composta por árvores que, ao realizarem evapotranspiração, colocam na atmosfera grande volume de água.

O aquecimento global nos traz diversas dúvidas em relação ao futuro e muito se fala do impacto da mudança no clima sobre as florestas do planeta. Para os autores, as mudanças climáticas podem afetar profundamente a floresta Amazônica, principalmente quando lidamos conjuntamente com a mudança de uso do solo (conversão de florestas nativas para outros usos), que acelera as emissões de gases de efeito estufa.

Outro efeito dessas mudanças é em relação à resiliência da floresta, ou seja, a possibilidade de voltar à forma original após distúrbios. Projeções revelam que, até 2050, os períodos de secas consecutivas irão ocorrer mais frequentemente, além do aumento na temperatura média, que traz como consequência menor estoque de carbono e impacto sobre a resiliência de alguns ecossistemas dentro do bioma. Na Amazônia, a maior parte da sua área é de floresta estável, no entanto, regiões do sudeste da Amazônia, próximas ao chamado arco do desmatamento, estão emitindo mais carbono do que é estocado. Isso chama atenção para os impactos da possível desestabilização causada pelo desmatamento de outras regiões da Amazônia.

Após um distúrbio e ultrapassado o limite do ecossistema, ocorre a transição para outras configurações de equilíbrio que podem ser de forma lenta ou abrupta. Os autores chamam a atenção para a importância do regime de chuvas, um fator que garante a heterogeneidade (essencial para haver resiliência, garantido pela diversidade de espécies e grupos) da floresta, pois, quando não há estresse hídrico, a floresta tende a ser mais resiliente aos distúrbios sofridos.

Afinal, quais são os limites da Floresta Amazônica quando se trata de estresse hídrico? Para isso os autores, por meio de estudos com diversas metodologias, apontaram fatores causadores do estresse e seus limites. Para a duração da época de seca, o artigo propõe um limite seguro de no máximo 5 meses. Para o volume de chuvas anuais, é necessário pensar nas situações de floresta e de floresta alagada, sendo essa última muito mais sensível a um menor volume de chuvas ao ano. Assim, como um limite seguro, definiram um volume acumulado de no mínimo 1800 mm de chuvas anuais. Além disso, para os autores, o aquecimento global pode gerar uma interação dos distúrbios, o que pode causar transições que não seriam possíveis prever. Dessa forma, eles definiram um limite de aumento de 1,5ºC, mesmo valor combinado no Acordo de Paris em 2015. Segundo esse raciocínio, o desmatamento é o causador da devastação da floresta, gerando rapidamente muita mortalidade e, como consequência, impactando o regime de chuvas. Assim, os autores dizem que não só o desmatamento deve parar, como deve ocorrer restauração de no mínimo 5% de toda a Floresta Amazônica.

Com a degradação, quais as trajetórias que a floresta pode traçar? Nesse sentido, os autores colocam 3 opções de trajetórias alternativas: Floresta Degradada, Savana e Floresta de Dossel Aberto Degradado. A floresta degradada seria uma composição em que ocorreria a dominação de espécies de cipós e/ou bambus, que se estabelecem mais rapidamente que as espécies arbóreas, causadas pelo aquecimento global, secas, incêndios e desmatamento. Já a savana ocorreria em locais onde houveram incêndios recorrentes, além de secas, o que ja foi observado em alguns locais da Floresta Amazônica, como na Bacia do Rio Negro. Por fim, a floresta de dossel (cobertura da floresta com as copas das árvores) aberto seria encontrada em áreas devido a desestabilização do sistema, pelo aquecimento global, incêndios e secas, impedindo o desenvolvimento de vegetação florestal de grande porte e que cubra o dossel.

Portanto, a cada dia estamos entendendo mais o funcionamento da maior floresta tropical do mundo. Por mais que ainda faltem muitas peças no quebra cabeça para entender completamente esse tão complexo sistema, seus limites vêm sendo cada vez mais estudados, sendo necessárias ações concretas. Os autores fecham o texto indicando local e mundialmente as ações necessárias para que não cheguemos ao limite da floresta, como a redução do desmatamento, expansão de áreas de proteção e diminuição da emissão de gases de efeito estufa. Com isso, pode-se garantir a sobrevivência dessa grande produtora de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, com a possibilidade de planejar o futuro.

AUTOR: João Pedro Bessa Oliveira – Grupo de Extensão e Pesquisa em Ecologia e Manejo de Florestas Tropicais Nativas (GEPEM) da ESALQ – USP

REFERÊNCIAS:
FLORES, B. M. et al. Critical transitions in the Amazon forest system. Nature, v. 626, n. 7999, p. 555–564, 2024. https://doi.org/10.1038/s41586-023-06970-0

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