A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é feita por bactérias do gênero Bradyrhizobium, e possibilita o cultivo de soja no Brasil, aumentando sua competitividade em escala mundial. No entanto, esse processo sofre por vários fatores de influência, como as condições edafoclimáticas, e técnicas de manejo, como a utilização de tratamento de sementes.
Um dos principais manejos é o tratamento de sementes com fungicidas, com o intuito de atenuar os danos causados por doenças de solo, e assim, preservar o número de plântulas na lavoura. Além disso, o tratamento de sementes também serve preventivamente, para evitar a infestação de um patógeno na área de cultivo. No entanto, o mesmo produto químico que evita altos danos por doenças de solo na área de cultivo, é também o responsável por causar toxicidade às bactérias de nodulação, diminuindo a eficiência do processo da FBN. Nesse sentido, a inoculação de Bradyrhizobium no sulco de semeadura é uma estratégia viável para tornar compatível, e aliar o tratamento de sementes com fungicidas químicos e a viabilidade das bactérias.
O experimento foi conduzido no Campo Experimental Água Boa, pertencente à EMBRAPA em Roraima, município de Boa Vista – RR. Dessa forma, o preparo da área foi feito a aplicação de 1,5 t ha-1 de calcário dolomítico (PRNT 80%) e 100 kg ha-1 de P2O5 na forma de Superfosfato Simples, além disso, foi semeado o milheto, o qual foi dessecado com glifosato, duas semanas antes da semeadura da soja.
Para a adubação de base foi feito 90 kg ha-1 de Superfosfato Simples junto com 50 kg ha-1 de Cloreto de potássio via semeadora-adubadora. Também foi feito uma cobertura aos 35 DAE (Dias Após Emergência) com 50 kg ha-1 de Cloreto de Potássio e 2,5 g ha-1 de cloreto de Cobalto e 20 g ha-1 de molibdato de sódio.
As parcelas são de 5 x 4 m, com espaçamento entre fileiras de 0,45 m e de 14 a 15 sementes por metro.
Avaliou-se o método de inoculação das estirpes de B. elkanii SEMIA 587 e SEMIA 5019, em veículo líquido, na proporção de 1,2 milhão de células por semente, e a inoculação no sulco de semeadura com mesmo inoculante e uma dose de 3,6 milhões de células por semente. Além disso, foi avaliado os métodos de inoculação com sementes de soja tratada com fungicida, e um controle sem N e sem inoculação, e outro com inoculação e com N-adubo (200 kg ha-1 uréia: sendo 50 % no plantio e 50 % aos 35 DAE). Por fim, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%.
A inoculação de SEMIA 587 e SEMIA 5919 foi eficiente tanto na inoculação via semente quanto via sulco. No entanto, quando avaliado o tratamento de sementes com fungicidas, foi observado uma redução no número e massa de nódulos.
Por outro lado, quando se analisa conjuntamente os dados, não foi observado mudança significativa na presença de fungicidas, mostrando que a adição de fungicidas ao tratamento de sementes se mostrou compatível com as estirpes de Bradyrhizobium.
Figura1: Rendimento médio de grãos de soja (anos de 2006 e 2007) em avaliação de métodos de inoculação com Bradyrhizobium no Cerrado de Roraima. Análise realizada conjuntamente, considerando uma fatorial entre os métodos de inoculação, fungicidas e os dois anos.
Fonte: HUNGRIA., et al. (2010)
Por fim, nota-se que a inoculação da soja via sulco de semeadura proporcionou desempenho da FBN igual da inoculação realizada diretamente nas sementes. A aplicação do inoculante no sulco de semeadura mostrou-se uma alternativa viável para a inoculação da soja quando as sementes forem tratadas com fungicidas. A inoculação das sementes de soja com Bradyrhizobium e sem o tratamento com fungicidas proporcionou rendimento de grãos semelhante ao do fertilizante nitrogenado com 200 kg ha-1 de N.
Autores: alunos do grupo ESALQ PACES
Referências: HUNGRIA, M., et al. SEÇÃO III – BIOLOGIA DO SOLO. Inoculação da soja com Bradyrhizobium no sulco de semeadura, alternativamente à inoculação de sementes v. 465, n. 4, p. 1875–1881, 2010.