Um amigo me disse que leu uma frase na internet e tomou um susto. Era essa:
“Como as pessoas andam estranhas…. deixam o filho em uma creche, o pai em um asilo, e vão passear com o cachorro”.
Perguntei-lhe quem era o autor, para que eu pudesse citá-lo aqui, mas meu amigo não se recordou. Mesmo assim, senti vontade de conversar um pouco sobre ela. O que você acha dessa frase? Chocante? Estaria distante da verdade dos fatos? Afinal, que sociedade é essa, que tempos são esses, que estamos vivendo?
Veja bem, no campo da medicina, os médicos hoje precisam seguir protocolos generalistas, pouco flexíveis, impostos pelos conselhos, se não quiserem ser acionados na justiça pelos próprios pacientes insatisfeitos. No entanto, esses últimos transferem, comodamente, a responsabilidade pela sua cura ou pela manutenção de sua saúde, aos médicos.
De outro lado, os médicos, como forma de se atualizarem profissionalmente, frequentam congressos, cursos e simpósios, inteiramente patrocinados pelos laboratórios que fabricam os remédios. Lá, assistem a apresentações de trabalhos “científicos”, também patrocinados pelos mesmos laboratórios, que comprovam a eficiência desses remédios. Há aqueles que gastam cinco minutos para atender um paciente!
No agronegócio, os produtores de alimentos são diariamente visitados por vendedores de insumos agrícolas. São assediados como se fossem grandes estrelas da música ou do esporte. Se representarem alto potencial de compra, receberão convites gratuitos para assistirem a palestras, dias de campo, para viajarem ao exterior com tudo pago, ou ir a convenções em resorts de alto padrão. Muitos se submetem… e se tornam reféns.
De outro lado, os agrônomos consultores, responsáveis pelas lavouras, seguem diretrizes e referências “oficiais” vindas de protocolos e tabelas de adubação do século passado. Sujeitos à fiscalização por parte de órgãos completamente desatualizados e sujeitos à feroz influência de grandes multinacionais fabricantes de insumos, esses consultores simplesmente não têm o menor estímulo para emitir recomendações fora do preconizado pelos interesses desses fabricantes.
O modelo agrícola ditado pelos fabricantes e distribuidores de insumos é tão perverso, que utiliza toda força de comunicação necessária para causar, na mente dos produtores e das pessoas em geral, tremendas confusões conceituais. Assim, o vendedor de insumos, também se apresenta como “consultor”. A agroecologia, ciência que estuda os agroecossistemas, é apresentada como movimento social de minorias, de maneira que os produtores percam o interesse em conhecê-la. O termo “sustentabilidade” é usado com a máxima vulgaridade e ignorância possível, gerando o descrédito dos parceiros internacionais e da opinião pública lúcida.
O uso de venenos altamente tóxicos ao meio ambiente e às pessoas é defendido com unhas e dentes, como se fossem inocentes “remédios” sem os quais a população padeceria de fome e pobreza. O governo federal, ignorante no assunto, sucumbe à pressão dos lobbies e libera para uso em nossos alimentos, venenos proibidos em quase todos os países civilizados, e que não farão a menor diferença em nossas produções, apenas contribuirão para elevar as estatísticas de casos de câncer.
Nas faculdades de agronomia, os alunos recebem uma carga de centenas de horas/aula, a respeito de como se deve usar esses insumos para “combater” as pragas e as doenças que infestam as lavouras. Mas quase não recebem aulas, a respeito das causas que provocaram esses problemas e como os evitar. A Agroecologia é disciplina quase figurativa nas escolas de agronomia. Até mesmo a microbiologia é tratada de forma acentuadamente reducionista.
Na vida política do País, os diversos assuntos de interesse da população, são tratados pelos políticos de diversas formas, menos com o espírito público e o altruísmo necessário. Em sua quase totalidade, as grandes questões nacionais, como a educação, a saúde pública e a segurança, são apenas um “pano de fundo” para que os políticos cuidem de adquirir cada vez mais poder e dinheiro para si próprios.
Mas, enquanto isso, estamos aqui, passeando com nosso cachorro. Enquanto nosso filho está na creche e nosso pai no asilo. A frase diz tudo! O problema não são as multinacionais, não são os políticos… não. O problema somos nós, seres humanos! E isso vem de longa data. Nossa história está aí, para comprovar. Egoísmo, orgulho, vaidade e, principalmente, ignorância; esses são os defeitos que nos acompanham, há séculos.
Por isso, continuo acreditando naquilo que os espíritas chamam de “reforma íntima”. Podemos também chamar isso de “atitude cristã”; budistas falam em “compaixão e ação correta”. Acredito nessa solução: um esforço mental de cada um de nós, no sentido de trabalharmos essas imperfeições que citei. Isso faz uma vida valer a pena.
Penso, no entanto, que não devemos ser omissos. O momento é para que nos manifestemos. Nossos jovens precisam de boas referências. Solidariedade sim. Compaixão e exemplo, idem. Mas de nada adianta querermos mudar o outro. Cada um que mude a si mesmo. O fato é que não podemos deixar que falsas premissas, ou raciocínios equivocados, justifiquem ações que nossa própria consciência no fundo condena.
Vivemos um momento delicado, enquanto sociedade; mas a evolução íntima nos chama, em voz alta. Sim, queremos sair dessa lama. É hora de experimentar sintonias mais elevadas! Vamos juntos, diariamente, vigiar nossos pensamentos?
Antonio N. S. Teixeira
Diretor Executivo – IBA