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“Mantenha este local limpo”

– Não urine no chão!

– Dê descarga após o uso.

– Mantenha este local limpo. Depois de você, outros usarão esse sanitário.

Sim, é verdade. Não estou inventando nada. Quem viaja pelo Brasil, já viu isso. Essas instruções estão coladas nas paredes de muitos banheiros por aí. Pelo menos, nos banheiros masculinos, que são os que tenho acesso. Você, que é mulher, diga-me, por favor, se essas instruções estão lá também, nos banheiros femininos. Em hotéis, restaurantes, aeroportos, numa infinidade de lugares públicos….

Como se sente lendo essas “instruções”? Por que razão elas estão lá? Peço a sua licença para mais uma reflexão…. Por que será que nossa sociedade ainda necessita de regras tão básicas de comportamento? Perdoem-me, mas não consigo me lembrar quem é o autor dessa frase, irresistível para o momento:

“Ética é aquilo que você faz, quando ninguém está te vendo.”

Pois é, o banheiro tem essa característica: ninguém está te vendo. Poderíamos concluir então, que vivemos uma crise de ética em nossa sociedade? Isso explicaria a questão? Infelizmente, creio que a resposta não é tão simples assim.

Vamos então sair do banheiro, e caminhar pelos campos, pelas fazendas. O quê estamos jogando no chão? Estamos mantendo o local limpo? Como estamos descartando os dejetos e resíduos resultantes das atividades produtivas? Estercos, camas, cascas, dejetos líquidos….

Muitos bons produtores desse País, ficariam constrangidos em responder essas perguntas. Faltaria a eles a ética? Acho que não. Do que se trata, então? Não sei. Mas tenho um palpite (quero aqui fazer um breve comentário: como é bom poder registrar um palpite! Vantagens que só um artigo não científico tem). Meu palpite é: estamos funcionando no “modo automático”.

“Mantenha esse local limpo. Depois de você, outros usarão esse sanitário”.

É claro que sabemos disso! Nossas terras serão utilizadas por alguém, depois que decidirmos nos aposentar. Talvez, pelos nossos filhos ou netos. Eu sei, terras e cursos d’água não são sanitários. Mas…. o que estamos despejando neles? Que tipo de resíduo está sendo acumulado para as próximas gerações? Estamos ultrapassando a capacidade de recuperação desses recursos naturais?

Perguntas que exigem um modo lúcido de funcionamento dos nossos cérebros. O “modo automático”, imposto pelas urgências do nosso dia a dia, e pelos interesses de empresas e organizações que têm objetivos que não são os seus, pode ser um modo perigoso de funcionamento. Isso é um alerta? Sim!

O que tenho a dizer é: não deixe que as urgências do seu dia a dia te transformem em algo que você não é. Mantenha sua lucidez, sua visão crítica. Isso não é incompatível com ganhos financeiros, ao contrário. Mantenha a calma e siga sua intuição.

Você sabe o que é melhor para seu futuro, e o dos seus descendentes. Produzir alimentos é uma tarefa abençoada, fantástica. Não precisamos destruir os recursos naturais para realizá-la. Os processos naturais são como uma espiral positiva, que geram ganhos a cada volta. Necessário é que entendamos esses processos, afim de que possamos potencializá-los, com a utilização da ciência genuína.

Digo genuína, porque quero enfatizar aquela ciência independente, isenta de interesses comerciais, aquela que realmente participa da evolução da humanidade. Somos muito sensíveis às conquistas científicas. Ficamos maravilhados com seus avanços. Não deixemos que essa admiração nos cegue para a perfeição dos processos naturais.

Compreender a natureza dos processos naturais pode não ser tão charmoso quanto novas tecnologias, mas é fundamental para que possamos, enquanto produtores de alimentos, garantir continuidade em nossos processos produtivos. Ao compreendermos os processos naturais que envolvem um ambiente de produção agrícola, estamos utilizando, em sua forma mais clássica, a ciência.

Precisamos aprender a valorizar isso também. Valorizemos os banheiros limpos e o cuidado no manejo das produções agropecuárias, no uso cuidadoso das substâncias agressivas à vida (que alguns insistem em dizer que são seguras), no descarte e aproveitamento dos resíduos gerados.

Afinal, depois de nós, outros utilizarão essas terras!

Antonio N. S. Teixeira

Diretor Executivo – IBA

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