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A lógica da Adubação Orgânica – o caso do fósforo.

Quando calculamos a adubação fosfatada em solos cultivados por mais de dez anos, é preciso primeiro decidir se usaremos o raciocínio “químico” ou o biológico. No primeiro caso, mais usual, basta utilizarmos os adubos sintéticos de alta solubilidade e aplicar três ou mais vezes a quantidade demandada pela planta (extração), já tomando-se como certo que mais da metade (às vezes 80%) do produto aplicado, não chegará ao seu destino (a planta). Isso por conta das adsorções e imobilizações edáficas.

Nos agroecossistemas já cultivados há anos, porém fertilizados agora com adubação orgânica de qualidade, é fundamental entender que a taxa de absorção do elemento Fósforo pela planta, depende muito mais de outros fatores, do que da quantidade ou solubilidade do fertilizante empregado.

Nesse caso, a palavra “solubilidade” deve ser substituída por “disponibilidade”. Ué, poderiam perguntar, mas para estar disponível, não tem que ser solúvel? Do ponto de vista do fertilizante, a resposta é sim. No entanto, essa solubilidade não precisa existir previamente; não precisamos pagar por isso. Ela pode acontecer dentro do solo.

Quando reduzimos expressivamente os adubos de alta solubilidade e passamos a aplicar adubação orgânica, sempre é bom frisar, de qualidade, adubos fosfatados de baixa solubilidade costumam entregar os melhores resultados, a um custo menor. Isso se deve a uma movimentação natural do sistema que, “recuperado” pela desintoxicação e revitalização do solo, volta a funcionar.

Fatores interdependentes, e que ocorrem de forma sistêmica, podem aqui ser citados, para explicar de forma mais simplificada e didática.

1. Aumento da atividade dos microrganismos solubilizadores de fosfato;
2. Aumento da colonização radicular por fungos micorrízicos arbusculares;
3. Aumento da biociclagem dos fosfatos orgânicos;
4. Aumento da secreção de exsudatos radiculares específicos;
5. Aumento dos pelos radiculares, e do volume e cumprimento radicular;
6. Aumento da capacidade de retenção de água do solo;
7. Diminuição do grau de compactação e aumento da oxigenação do solo.

É importante entender que, o aumento da população, atividade e diversidade da biota do solo, é consequência não só da substituição do modelo de adubação, mas também do manejo da biodiversidade vegetal e da redução de uso de substâncias agressivas à vida.

Por sua vez, os fatores físicos do solo, citados acima são, ao mesmo tempo, efeito e causa das modificações biológicas. Por exemplo: a desintoxicação do solo faz com que voltem a frequentálo em grande número, as minhocas, larvas, besouros etc. A atividade desses organismos revolve e descompacta o solo, forma galerias em seu interior, facilita a penetração das raízes.

Enquanto isso, organismos bem menores, como os fungos, secretam glomalina, substância que “cola” as partículas de solo, agregando-o e permitindo assim, maior aeração e retenção de água. Essas novas condições físicas, por sua vez, favorecem o aumento da vida no interior do solo.

Rochas fosfáticas naturais, apenas finamente moídas, ao contrário dos adubos altamente solúveis, tratados com ácido sulfúrico, fornecem o estoque de Fósforo necessário, sem inibir de forma significativa os processos naturais de obtenção desse elemento pelas plantas. Existem centenas de trabalhos científicos comprovando, por exemplo, a forte inibição da atividade micorrízica, quando se utilizam os fosfatados de alta solubilidade. Além disso, as taxas de imobilização por parte do solo, do Fósforo dessas rochas apenas moídas, são muito menores.

Ao adicionarmos remineralizadores, sempre finamente moídos (>60% passante em peneira de 0,3mm) que contenham Fósforo, no início do processo de compostagem, para fazermos nosso adubo orgânico enriquecido, contaremos com a ação dos microrganismos decompositores.

A atividade destes promove o aumento da temperatura da massa (até 70°C), bem como a formação de ácidos orgânicos, que, após algumas semanas, constroem ligações químicas entre as cadeias carbônicas e os minerais daquela rocha, quelatizando-os ou complexando-os, aumentando sua eficiência na nutrição das plantas.

Por tudo isso, e considerando a menor imobilização e maior eficiência na absorção e reuso, obviamente que as quantidades de Fósforo aplicadas ao solo, não precisam mais ser tão maiores que as extraídas pelas plantas. Mas…e se os teores de fósforo solúvel do solo estiverem baixos?

Sempre pensando em solos já cultivados e adubados no modelo convencional por anos, podemos afirmar que o Fósforo está lá sim, e em grande quantidade. Isso se comprova facilmente, através de uma análise do tipo “fósforo total”. Claro que isso não vale para solos pobres em Fósforo, em seus primeiros anos de uso, como os de um Cerrado típico, por exemplo.

Portanto, a análise de solo convencional, melich ou resina, nesses casos, é dispensável, por não representar aquilo que queremos de fato saber: a planta terá acesso ao Fósforo ou não?

Outra ressalva são as condições físicas do solo, especialmente o grau de compactação, de agregação e da capacidade de retenção de água. Mesmo sabendo que a Bioativação melhora sensivelmente esses atributos, é preciso um certo cuidado, no primeiro ano da transição, notadamente no caso de culturas de ciclo curto. Nesse caso, talvez seja melhor plantar a soja (por exemplo) com uma pequena quantidade de adubo fosfatado solúvel (até 40Kg P2O5/ha) no sulco de plantio. Lavouras com altíssimas populações de nematoides prejudiciais, também se enquadram nesse caso, devido ao volume reduzido de raízes.

Resumindo: ao optar pela adubação orgânica de qualidade, o produtor, para obter os melhores resultados, deve optar também, pela transição do modelo convencional para um de base ecológica. É o que eu sempre chamei de Bioativação do solo. Não se trata de usar um produto A ou B. Nada disso. Estamos falando de tecnologia de sistemas não de produtos. Os primeiros passos para uma transição agroecológica, de acordo com a própria EMBRAPA (Marco referencial em Agroecologia, 2006) são:

1. Redução e racionalização de uso dos insumos e manejos agressivos;
2. Substituição dos insumos e manejos agressivos por outros, favoráveis à vida;
3. Manejo da biodiversidade vegetal.

Ou seja, precisamos, por um lado, diminuir a quantidade usada, de substâncias agressivas à vida, como pesticidas (ou defensivos químicos), fertilizantes sintéticos, altamente solúveis, salinizantes ou acidificantes. De outro lado, precisamos aumentar o uso de substâncias que promovam a vida, como um composto orgânico bem feito, remineralizadores, inoculantes microbianos, ácidos húmicos, extratos de algas, entre outros.

Feito esse primeiro “dever de casa”, cujos benefícios normalmente já aparecem desde o primeiro ano, ao contrário do que dizem por aí, poderemos então pensar no redesenho de todo o sistema de produção, em outras bases, mais adequadas aos novos tempos.

Antonio N.S. Teixeira

Diretor Executivo IBA

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