“Agroecologia é só uma ideologia”.
De fato, assim como qualquer entidade no mundo, a agroecologia possui uma ideologia. Mas não podemos deixar que os interesses comerciais da indústria de insumos se sobreponha aos interesses dos produtores e da sociedade em geral, bem como das futuras gerações. A agroecologia busca uma nova ética política, a retomada de uma economia compatível com os melhores valores humanos e ambientais, a convivência harmônica entre homem e natureza.
“Agroecologia é do tempo das cavernas”.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a agroecologia não nega a ciência, mas por basear-se em técnicas utilizadas pelos nossos avós, camponeses e indígenas, frente aos avanços tecnológicos atuais, ela parece dispensável.
Atualmente é possível conciliar o conhecimento e a observação ancestrais, com as novas tecnologias, conceitos e sistemas. Para isso, a agroecologia se apoia na ciência moderna, sem deixar de ser transdisciplinar, com princípios teóricos e metodológicos das ciências sociais, agrárias e naturais, visando o desenho, manejo e conservação de agroecossistemas sustentáveis.
“Agroecologia demanda muita mão-de-obra”.
A necessidade de trabalho é, sem dúvida, maior que na agricultura convencional, quando falamos dos estágios iniciais da transição agroecológica, devido às condições que geralmente apresentam alto nível de degradação.
Porém, os processos agroecológicos não podem ser avaliados em um ciclo anual de cultivo, mas sim em um tempo mais amplo, pois envolvem um movimento de recombinação de fatores, de regeneração ecológica, de ampliação da biodiversidade. No médio e longo prazo a tendência é que o uso de mão-de-obra não seja um fator crítico, e que que parte dos recursos,que antes eram destinados à aquisição de insumos externos à propriedade, migre para o pagamento de serviços.
“Agroecologia não tem produtividade”.
Uma agricultura não produtiva não tem lugar no cenário atual, mas até quando mediremos a “produtividade” como a quantidade de sacas por hectare de uma determinada safra? A que custo imediato? E a que custo a longo prazo? Com que nível de desgaste? Com que qualidade nutricional? Não deveríamos medir a produtividade total de uma área (ou fazenda), ao longo dos anos?
A agroecologia propõe uma mudança de paradigma econômico, social e ambiental: saímos do modelo “extrair para produzir” e passamos para “preservar para produzir”. O mercado consumidor hoje exige rastreabilidade, qualidade nos alimentos, preservação ambiental… A agroecologia capacita os produtores a participarem desse mercado que os trará maior rentabilidade.
“Agroecologia é inviável”.
O argumento aqui usado é que a agroecologia não permite “economias de escala”. Porém, são inúmeros os estudos e propriedades agroecológicas que apresentam produções iguais e superiores aos cultivos convencionais. O agronegócio se sustenta sobre latifúndios, permitindo que rendimentos monetários muito pequenos, quando multiplicados por áreas muito extensas, resultem em retornos econômicos agregados “sustentáveis”. Provavelmente o custo ambiental (e social) não estão sendo considerados nesta conta.
E por que não falar em produção agroecológica de alimentos e produção sustentável de commodities? Na primeira, podemos avançar rapidamente na aplicação dos conceitos e práticas agroecológicas. Na segunda, podemos dar os primeiros passos para, pelo menos, não destruirmos o solo e os cursos d’água. De qualquer foram, as grandes propriedades também terão que dar os primeiros passos, pois o mercado está a exigir.
“Alimento produzido agroecologicamente é caro”.
Em uma pesquisa feita em 2015, uma cesta criada com 20 itens, quando vendidas e comparadas entre feiras agroecológicas, grandes redes de supermercado e feiras livres de mercado popular, trouxe um resultado bastante surpreendente e mostrou que o valor total da cesta, ficava em média 56% mais cara nos supermercados do que na feira agroecológica. E nas feiras livres de mercados populares, ficaram 19% mais caras do que nas feiras agroecológicas.
Se você quer encontrar produtos agroecológicos a preços mais acessíveis, os lugares hoje são as feiras e outras iniciativas como grupos de consumo, lojas e armazéns do campo. Mas cuidado! Quem afirma que o agroecológico é mais caro, pode estar se referindo ao produto orgânico certificado. O produto pode ter o selo de orgânico (que realmente custa mais caro) mas ser produzido com degradação de recursos naturais (erosão, compactação, deficiências minerais, intoxicação dos solos com excessos na adubação orgânica crua, etc).
Por outro lado, numa produção agroecológica essa destruição não ocorreria, mas pode haver sim a necessidade de uso esporádico de algum adubo químico ou agrotóxico. Nessa hora, o agroecologista deve intervir, da forma mais segura possível, afim de não perder sua colheita, mas sem oferecer riscos ao ambiente, obedecendo a legislação, mas principalmente, sem oferecer riscos as pessoas que vão ingerir aquele alimento. Acima de tudo, serão estudadas as causas do problema, para evitar a necessidade de novas intervenções desse tipo. E aí, já tinha escutado algum destes mitos?
Qual? Conta pra gente!