INTRODUÇÃO
Um solo saudável é aquele com a contínua capacidade de funcionar como um ecossistema vivo, que sustenta a produtividade de plantas e animais, mantém a qualidade da água e do ar e promove a saúde das plantas, animais e pessoas, assegurando a saúde do planeta. Ela é dinâmica e pode ser alterada por más ou boas práticas de manejo.
Atualmente, cerca de um terço dos solos do planeta encontra-se em algum estádio de degradação. E as práticas de manejo inadequadas são uma das principais causas de perda da saúde do solo. Tendo, como consequência a redução da resistência e resiliência dos ecossistemas aos estresses ambientais e causando menor estabilidade de produção ao longo do tempo.
Portanto, tratando-se de um conceito que envolve complexas interações, a saúde do solo não pode ser mensurada a partir de apenas um parâmetro, mas indiretamente avaliada a partir de indicadores químicos, físicos e biológicos que são dinâmicos e sensíveis às práticas de manejo adotadas. As ferramentas de avaliação da saúde do solo permitem quantificar o funcionamento do solo em relação ao seu máximo potencial, tratando-se de uma métrica de sustentabilidade do sistema agrícola adotado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A primeira parte da avaliação está relacionada com a seleção de indicadores de saúde do solo, assim esta etapa é baseada em alguns critérios como: i) Relacionado às funções do solo (químicas, físicas e biológicas) e serviços do ecossistema (Conceitual); ii) Ser de fácil acessibilidade aos usuários e aplicável em condições de campo. Fácil de amostrar e medir. Tenha custo baixo e não demande de equipamentos inacessíveis (Prático); iii) Ser sensíveis às variações de manejo e do clima, para ser monitorado a variabilidade espacial e temporal (Sensível); iv) Fácil de interpretar; comparável com dados de rotina, métodos padronizados e fazer parte de banco de dados pré-existentes (sempre que possível) (Interpretável). alguns indicadores de saúde do solo..
A segunda etapa é relacionada com a interpretação do resultado desses indicadores, a qual é realizada pode ser realizada por meio de manuais ou ferramentas robustas como SMAF E CASH. Estes sistemas possuem um conjunto mínimo de indicadores fixos e metodologias padronizadas, os quais permitem o acúmulo de dados e o estabelecimento de curvas de interpretação mais robustas. Finalmente, na última etapa, os indicadores são integrados em um único índice que reflete a capacidade de funcionamento do solo
Para avaliar a saúde do solo de forma eficaz, é necessário converter indicadores em valores que representem adequadamente o estado do solo. Isso pode ser alcançado por meio da seleção cuidadosa de indicadores específicos, sendo eles químicos, físicos e biológicos, que reflitam as funções do solo. Esses indicadores devem ser práticos, alinhados à capacidade técnica e sensíveis às variações de manejo, permitindo uma análise espacial e temporal precisa.
A integração desses indicadores em índices de saúde do solo é crucial para diagnosticar problemas e adaptar as práticas de manejo. Esses índices devem ser baseados em padrões metodológicos padronizados, preferencialmente referenciados em bancos de dados existentes, e devem considerar as características específicas do ambiente local.
A implementação de sistemas de avaliação da saúde do solo, como o SMAF e o CASH, oferece uma abordagem prática para monitorar e melhorar a saúde do solo. No entanto, é importante ressaltar que os sistemas atuais de avaliação da saúde do solo não são universalmente aplicáveis, pois foram otimizados para condições específicas dos EUA, resultando em desafios relacionados à seleção de indicadores e metodologias. Além disso, os dados utilizados para calibrar esses sistemas são predominantemente oriundos dessas regiões, o que pode não refletir adequadamente as características dos solos em climas tropicais.
CONCLUSÃO
No contexto brasileiro, o sistema FertBio, criado e desenvolvido pelo programa BioAS da Embrapa em 2020, representa uma iniciativa promissora para desenvolver uma abordagem nativa de avaliação da saúde do solo. O desenvolvimento de um sistema regionalizado de avaliação da saúde do solo é crucial para atender às necessidades específicas de cada região. Isso requer uma colaboração intensa entre cientistas, produtores e empresas, além da construção de uma base de dados abrangente e do desenvolvimento de algoritmos de interpretação.
Apesar de extremamente trabalhoso, o desenvolvimento de um sistema nativo de avaliação para o Brasil é um passo significativo e necessário para disseminar o conceito de saúde do solo de forma prática, tornando-o acessível aos produtores brasileiros. Este passo é importantíssimo para garantir a assertividade nas práticas de manejo adotadas e na avaliação dos impactos destas práticas no funcionamento dos solos.
Autores: Maurício Roberto Cherubin1*, Martha Lustosa Carvalho2, Marcos Rodrigues3
Autor do resumo: Giovana Moralles Karg¹
¹Departamento de Ciência do Solo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), Piracicaba, Brasil.
Cherubin, Maurício Roberto, Martha Lustosa Carvalho, Marcos Rodrigues. Avaliação da Saúde do Solo: Indicadores, Metodologias e Índices. Revista Informações Agronômicas, número 21, páginas 5-13, março de 2024.
Disponível em: https://www.npct.com.br/publication/IASite.nsf/pub/available/IA-2024-21?OpenDocument&toc=202